sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Dia onze.

Diálogos matinais.


Encontrei um vizinho com quem já não me cruzava há algum tempo. Daqueles que me conhecem desde a altura em que eu andava na escola primária. (Sim, eu sei que se diz "ensino básico" há uns vinte anos. Mas eu gosto mais assim.) As nossas conversas andam sempre à volta do mesmo: eu pergunto-lhe pelos netos; ele pergunta-me pela vida. E toda a gente sabe que hoje em dia perguntar pela vida é perguntar pelo emprego, tendo de antemão em mente a eventual (quase provável, diria eu...) falta dele.

Hoje a sequência foi a de sempre. Eu perguntei pelos meninos. O senhor J. disse-me que estão bons, grandes, o mais crescido já a entrar "naquela idade". Seguiu-se o tema do costume: "Então? E a menina? Hoje já foi ganhar o dia?" Disse-lhe a verdade: "Não... Eu agora deixei outra vez de ganhar os dias, sabe, senhor J.?"

E agora imaginem o senhor J.. Um qualquer senhor J. daqueles que vos conhecem desde aquela época em que descobriram que as vogais são cinco e que um mais um dá dois. Um senhor J. que sabe perfeitamente que este mundo anda meio torto. Mas que, ainda assim, pôs o ar mais desconfiado que eu alguma vez lhe vi e me perguntou, enquanto mentalmente tentava decidir se me havia de achar incompetente ou preguiçosa (há olhares reveladores):

"Mas isso foi porque quis, não foi?"

Claro, senhor J.. Claro que foi. Aliás, eu até diria que foi de propósito. Isso de "ganhar os dias" cansa uma pessoa.

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