quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Dia vinte e quatro.

"Tu queres é um trabalho das nove às cinco."


Esta é uma ideia com a qual nos deparamos vezes sem conta, sendo que qualquer um de nós (desempregado ou com emprego, mais velho ou mais novo, solteiro ou casado) é um potencial alvo. A formulação é variável, dependendo do génio que a profere, mas o tom costuma ficar ali entre o recriminatório e o arrogantezinho.

A questão aqui é muito simples: e se eu quiser um trabalho das nove às cinco? Ou do meio-dia às oito, ou das dez às seis, ou das sete às três? E se eu quiser usufruir desse privilégio claramente extravagante que é ter horas de entrada e de saída definidas?

Não percebo porque é que a ideia de ter um horário de trabalho há-de ser assim tão exótica. Tanto quanto sei, tê-lo é um direito pelo qual muitos lutaram. E venha a primeira pessoa que garante, com a mesma convicção com que atira estas pérolas em tom acusador e desdenhoso, que não ter horas para entrar nem para sair foi a melhor coisa que a vida lhe deu, que trabalhar de sol a sol é um bálsamo, que estar a postos de domingo a domingo foi tudo aquilo com que sempre sonhou e que família, amigos, vida pessoal, corpo e mente agradecem o permanente descuido.

É que às vezes esgota-se-me a paciência.

E esta conversa de que quem luta por ter vida além do trabalho é mandrião não cabe na cabeça de ninguém.

2 comentários:

  1. concordo plenamente!
    também há aquelas situações em que, quem sai às 18h em ponto, é olhado de lado pelos colegas. se o trabalho estiver feito, qual o problema?

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  2. Parece mal. (Estou a ser irónica, claro.)

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