segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Dia vinte e um.

Descontos socialmente conscientes.


Neste fim-de-semana descobri o "bilhete de desempregado". O conceito não é novo (vem de Março de 2012), mas eu só dei conta dele agora (provavelmente porque dantes o assunto não me chamaria assim tanto a atenção). A mecânica é simples: para além dos descontos habituais, em infra-estruturas à guarda do Estado as entradas são grátis para quem não tem emprego. Noutros casos, os bilhetes não são gratuitos mas têm descontos.

E isto fez-me pensar.

Dois dias passados, ainda não sei bem para que lado pendo mais: se para a satisfação por ver posta em prática uma ideia generosa e acima de tudo sensata nos tempos que correm, se para aquela espécie de desconforto que se apoderou de mim quando me apercebi disto. Parece-me evidente que facilitar o acesso à cultura e ao lazer àqueles que não têm emprego é uma intenção meritória (além de ser mais do que justificável, claro); por outro lado, esta iniciativa acaba por demonstrar que de uma vez por todas se assumiu que o caso é mesmo sério: há tanta gente sem emprego e sem dinheiro que até se criou uma espécie de contingente especial.

É bom saber que existe esta consciência social, e que o problema, além de identificado, é reconhecido ao ponto de se criarem alternativas para que ninguém fique privado de certas actividades por estar numa situação que nem sequer escolheu. Só que este desconto é também uma evidência – simbólica mas crua: poucas coisas representam tão bem quanto isto as proporções que o desemprego alcançou. Já não se fala dele baixinho. Já não se assumem, sequer, os falsos benefícios (neste caso) de uma igualdade de direitos: em vez do "somos todos iguais", há algo que se cria e que nos torna manifestamente diferentes – numa diferença que, por mais que misture sentimentos tanto quanto misturou os meus, é útil. Pior: é necessária. Melhor: é salutar.

[Uma nota final mas obrigatória: deparei-me com este desconto para desempregados no Museu da Carris, e era impensável não aproveitar a oportunidade para sugerir uma visita. Vale muito, muito a pena. Seja a dois (se a cara-metade gostar meeeesmo do assunto, melhor ainda – vão por mim), com crianças ou num grupo de amigos. É uma bela experiência. E para quem, como eu, adora viagens ao passado, é imperdível.]

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