quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Dia quarenta e cinco.

Candidatemo-nos espontaneamente a tudo.


As candidaturas espontâneas são um mundo sem fim. O conceito é simples: equivale a enviar o currículo para tudo o que é empresa. Da forma mais básica, anexando-o a um e-mail, ou pelo caminho mais tortuoso, no caso das empresas que têm nos sites um formulário próprio para o efeito. E quando tiramos um dia para as ditas candidaturas há logo duas conclusões a que chegamos de imediato: a primeira é que preencher esses formulários é muuuuuito aborrecido (alguns levam quase uma hora a completar, com dezenas de campos que nem sequer permitem colar texto a partir do CV e onde nos perguntam tudo, desde as habilitações literárias ao tamanho que calçamos); a segunda é que, afinal, se queremos levar o lado espontâneo da procura de emprego a sério bem podemos tirar não um dia, mas todos eles. Porque começamos a pensar por áreas. E a fazer pesquisas. E a encontrar empresas. Uma leva a outra, e depois a outra, e depois a outra. Vamos saltando de área em área, de empresa em empresa, e quando damos por nós já passámos aos lugares (consoante a vontade de partir ou de ficar). Entretanto vão-nos ocorrendo empresas "soltas", que não têm propriamente nada a ver com... nada, mas que por algum motivo nos parecem boas alternativas. Nesta fase, já temos um documento aberto no computador com meia dúzia de tópicos mal-amanhados para não perdermos o fio à meada. Mas perdemo-lo. Inevitavelmente.

É. Só se diz que as conversas são como as cerejas porque quando a expressão nasceu ainda não havia candidaturas espontâneas.

Depois disto tudo, no "fim" (chamar-lhe "fim" é simpatia, porque como já se percebeu o processo é virtualmente infinito) fica sempre aquela vaga sensação de tempo perdido  que, alíás, nos acompanhou envio após envio. Pensando bem, conhecemos quantas pessoas que tenham conseguido emprego por este meio?

Pois. Eu também não me lembro de nenhuma.

Uma nota, ainda, para as respostas. Não havendo um e-mail específico para o envio de candidaturas, uma em cada cinquenta tentativas merece uma palavrinha de cortesia vinda do outro lado. Havendo esse e-mail, ou um formulário, temos o prazer de receber aquela resposta automática que todos conhecemos tão bem: algo que começa por "agradecemos o interesse manifestado" (ou uma das restantes variações) e termina com algo semelhante a "o seu currículo ficará registado na nossa base de dados e entraremos em contacto caso surja alguma oportunidade de recrutamento compatível com o seu perfil".

Nunca surge, claro.

Porque é que insistimos? Não sei. Talvez porque seguir todos os caminhos seja uma forma de sossegarmos a nossa consciência.

E, por outro lado, há dias em que temos de nos convencer a nós próprios de que estamos a fazer tudo. De que não estamos parados. Porque, por mais que não o estejamos, às vezes sentimos que nunca fazemos o suficiente.

3 comentários:

  1. Não acrescentava nem mais uma virgula.
    Sinto o mesmo, por muitos curriculuns que envie as vezes sinto que não é o suficiente.
    Parabéns pelo blogue, gosto muito, relata bem a vida de um desempregado, pelo menos a minha. Identifico-me com muitos textos que escreve.

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  2. É tal e qual o que eu faço. De entre as tais 50 e muitas, lá vêm umas...3 respostas, talvez. Sempre no estilo que descreveste. Sempre.
    Para quando uma nova variante, quanto mais não seja: convocamo-la para uma entrevista, etc etc.???
    Até aí, é continuar o "bombardeamento".

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