segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Dia quarenta e dois.

Projectos e promessas e resoluções e objectivos.


"Assim que voltar a trabalhar, o meu primeiro ordenado será para [algo-importante-a-determinado-nível-e-que-por-algum-motivo-andamos-a-adiar-há-demasiado-tempo]."

Ai, os planos. Ai, as ideias. Ai, o futuro. Ai, que bonito que será o mundo quando voltarmos a ter dinheirinho ao fim do mês.

É isso. Da próxima vez é que vai ser. O primeiro ordenado da nova série (ou a primeira série de ordenados, consoante o nível de exigência financeira) vai servir para pôr determinado assunto em dia. Para resolver um problema que tardamos em resolver. Para fazer algo que já prometemos a nós próprios ou a alguém há muito tempo.

Enquanto temos trabalho e ordenado, os dias vão correndo e os gastos são feitos num equilíbrio por vezes complexo entre o possível e o necessário. Mas, visto à distância criada pela falta de emprego, o mundo parece diferente, como se as possibilidades fossem bem maiores do que aquilo que pareciam ser em tempos mas a inércia ou a falta de imaginação nos tivessem impedido de as aproveitar. Quando temos um ordenado, fazemos todo o tipo de malabarismos para o esticar; quando não temos, há mil e um projectos que a nossa vontade nos garante que poremos em prática mal recebamos o próximo.

Nós, os desempregados, não sonhamos só com um novo emprego: sonhamos ("sonhar" é o verbo adequado) com um novo ordenado. Vemos nele tantas possibilidades como as que vê um jovenzinho que vai trabalhar pela primeira vez. A palavra "ordenado" parece equivaler a "solução de todos os problemas". É só ideias boas e bonitas para o destino que terá. E o facto de já se ter tido tal coisa na vida deixa-nos pouco mais sensíveis à realidade do que um estreante nestas lides.

Sem comentários:

Enviar um comentário