domingo, 23 de fevereiro de 2014

Dia quarenta e oito.

Lá fora. Cá dentro.


É vê-los partir. Não há mês em que pelo menos um não vá para longe. É perder a conta àqueles que já foram, mas saber que os dedos das mãos não chegam, nem de longe nem de perto, para essa conta se fazer. Estão por todo o lado; o mundo tem quatro cantos e eles estão nesses cantos, nas linhas que os unem e no espaço restante. Uns foram trabalhar, outros estudar; uns levaram o plano traçado, outros não levaram plano nenhum; uns mudaram de país, outros de país e de profissão. Mas todos mudaram de vida.

Não me perguntem porque é que o não faço. Há muitos motivos. Não querer talvez resuma todos eles. Em tempos partir também me pareceu a melhor opção a tomar; noutras alturas pareceu-me até a única. Nesses tempos, via-os sair e sonhava fazer o mesmo. Escolhi países, informei-me, investiguei. Delineei planos quase completos para uma "fuga" a tudo isto. Felizmente, de uma forma ou de outra incompletos o suficiente para que nenhum deles tenha chegado a bom porto. Talvez já nessa altura parte de mim desconfiasse, embora eu o não soubesse, de que mais tarde, com a mesma certeza com que nesses tempos queria partir, iria querer ficar.

Não vou porque não quero ir. E isto, com tudo o que o justifica ou só por si, é motivo mais do que suficiente para nem sequer ponderar outra hipótese.

(Curiosamente, os que foram para longe não insistem comigo para que o faça. Nem sequer mo propõem. Sugestões do género só partem de quem nunca de cá saiu nem tão-pouco ponderou fazê-lo.)

2 comentários:

  1. Normalmente, quem o faz, nunca enfrentou a angústia que é pensar que o "fugir daqui para fora" possa ser a única solucao. Ingenuidade a mais? Ou puramente a incapacidade de s colocar na pele do outro? Nunca teremos absoluta certeza.

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