terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Dia vinte e nove.

Ficámos sem emprego.


Já aqui disse que, no início deste ano, não fui a única a sair da empresa onde trabalhava. E, quando fiquei sem emprego pela primeira vez, em 2010, passou-se o mesmo. Em ambas as circunstâncias, fomos muitos a sair. E, também em ambas, todos desempenhavam até aí tarefas semelhantes, e movidos pela mesma paixão.

Em contextos como estes, não aparecem duas reacções iguais e raramente as há parecidas (a menos que duas ou mais cabeças se unam para criar algo em conjunto). Habitualmente, cada um escolhe um caminho diferente, faz as suas opções, encontra as suas estratégias. De uma história construída em comum, e mais ou menos semelhante, nascem tantas quantas as pessoas que se separaram por força das circunstâncias. A estrada partilhou-se com uma intensidade que só quem fez a viagem pode compreender, mas a vida segue em frente e cada um agarra-a à sua maneira. Como quer ou como consegue.

Uns regressam à terra natal. Outros demoram-se, mas só até poderem partir. E outros teimam em ficar. Há os que insistem em lutar pela área que os apaixona e os que procuram outros caminhos, por desejo ou por obrigação. Há os que se perdem entre mil e um projectos e os que se sentem perdidos por não terem projecto nenhum. Há os que já voltaram à realidade e os que aparentemente ainda estão um pouco ausentes, aproveitando o tempo livre que de repente surgiu para organizarem cabeça, casa e vida. Alguns mantêm-se em contacto com toda a gente, enquanto outros preferem desaparecer quase sem deixar rasto. Há quem corte o mal pela raiz e quem se vá separando dele aos poucos; há quem só se sinta bem falando com os antigos colegas dia sim, dia sim e quem fique meses sem dar notícias mesmo que lhas peçam. Uns admitem que choram todos os dias, outros fazem-no mas não contam a ninguém, outros vivem sorridentes e outros só choram de vez em quando. Uns são ressentimento. Outros são condescendência.

Entre todas as diferenças, só há uma (espécie de) dor que todos levam e guardam: as saudades. Escondidas, intensas, assumidas, amargas, conformadas, adormecidas, envergonhadas, serenas  se todos são diferentes em tudo, como é que não o seríam na forma de sentir a ausência? Faltam pormenores, tarefas, lugares, pessoas, rotinas. Parte da vida, que era quase vida por si só, deixou de existir. É isso que todos levam.

É isso que nos torna iguais. Depois de nós e das nossas circunstâncias, esse espaço vazio é o resto da estrada que ainda partilhamos.

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