segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Dia vinte e oito.

A difícil relação com as expectativas.


O desemprego e as expectativas andam de mãos dadas. E aqui tanto entram as expectativas boas como as más: nos dias "sim" alimentamos uma fé um nadinha exagerada em certas possibilidades e nos dias "não" convencemo-nos de que até o mundo já deu o que tinha a dar, quanto mais o mercado laboral.

Mas hoje a minha ideia é falar das boas. Por um lado, quando não temos emprego consultamos com (mais) afinco tudo o que é oferta e anúncio, e por vezes aparecem vagas que nos fazem sonhar alto, muito alto. Por outro, como ficámos desempregados pode acontecer que de repente tal ocorrência soe a sinónimo de oportunidades ilimitadas e que nos dediquemos a tentar alcançar cada uma delas. Quando damos por nós deixámos que se instalassem mil e uma ideias na nossa cabeça, sejam projectos que queremos pôr em prática ou novas áreas que queremos explorar, e aí vamos nós, caminhando entre o provável entusiasmo e o possível sufoco.

Problema: se o desempregado se encontra nestas circunstâncias é porque já deixou subir um bocadinho a fasquia. Um bocadinho demais, leia-se. Não é que eu não seja uma acérrima defensora do sonho, do optimismo, da luta, do cair e levantar. Sou. E é precisamente por ser assim que sei que lidar com as expectativas não é tarefa fácil  primeiro porque em certas circunstâncias alimentá-las é mais forte do que eu (nem vale a pena lutar contra isso); depois, porque sei que, em cada cinquenta possibilidades, aparece uma que segue para o nível seguinte (aquele intermédio, entre o sonho e a realidade). É o velho princípio: quanto mais alto se sobe, maior é a queda. Aprender de umas vezes para as outras é que nada.

Mas não se pense que somos só nós, desempregados eternamente sonhadores e ingénuos, os culpados deste desfasamento "expectacional". Aquelas pessoas que nos entrevistam uma ou duas vezes para o nosso emprego de sonho e que nos fazem acreditar que somos mesmo os maiores não ajudam nada. E aquelas que trabalham numa empresa muito boa e que nos juram a pés juntos que há vagas e que dentro de uma semana (no máximo) estamos sentados na secretária lá ao lado também podiam fazer o favor de guardarem os devaneios só para elas. 

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