segunda-feira, 31 de março de 2014

Dia oitenta e quatro.

Balanço.


Quando comecei este blogue, fi-lo porque gosto de escrever. E de trabalhar com escrita. Ora, quando surgem vagas para empregos relacionados com "texto", o mais habitual é pedirem-nos exemplos. E eu, antes de mais, queria ter aqui isso mesmo  um exemplo. Uma prova de que escrevo e de que, à falta de mais e melhor, pelo menos sei pôr vírgulas no sítio. E uma prova rápida de enviar, de mostrar, de ver.

E tudo isto também começou porque senti necessidade de me "mostrar". Não sou assim tão extrovertida, não gosto de holofotes e acho-me tudo menos brilhante. Mas dizia-me a experiência (a minha e a de quem me rodeia) que ficar parada, limitando-me a enviar currículos, não me havia de levar muito longe. Era preciso mais. Era preciso chegar mais além. O blogue pareceu-me um bom companheiro para essa viagem e o Facebook só poderia ser, claro, o transporte ideal. Não fosse ele (e, através dele, a SIC...) e estas escritas não teriam mil e duzentos seguidores. Não fosse ele e boa parte das pessoas que me conhecem nem sequer saberia que eu estava desempregada (sendo que muitas delas trabalham na minha área). Não fosse ele e eu nunca teria chegado a saber de certas vagas. (Por outro lado, não fosse ele e o estranho mundo das entrevistas e propostas "obscuras" ter-me-ia passado ao lado.)

Foi um longo caminho. Não tão longo assim, em termos de tempo, quando comparado com outros. Mas longo  é-o sempre quando não temos emprego, quando não sabemos o que virá a seguir, nem quando virá, nem como. Um caminho feito de oitenta e quatro dias aqui, e de mais alguns antes disto. E feito com muita gente à volta, desde os que me são mais próximos àqueles que nem conheço mas que partilharam algo comigo: em leituras, em moderníssimos likes, em comentários e em mails. Pediram-me conselhos que não soube dar (quem sou eu para tal coisa, aliás?), partilharam experiências, alegrias e frustrações "só porque sim", ficaram felizes quando souberam que a minha vida mudou, disseram que iam ter saudades de ler algo novo aqui todos os dias. E, a todas estas pessoas, eu nunca saberei o que dizer.

Escrever obrigou-me a pensar (mais ainda do que aquilo que já é normal em mim  quem me conhece sabe que sou dada a pensar demais). Houve dias fáceis e difíceis  para o ânimo e para a escrita. Dias em que não faltava assunto e dias em que não sabia o que escrever. (Hoje sei que houve duas ou três coisas que ficaram por dizer aqui, mas agora o tempo delas passou.) Dias em que tinha muito tempo e outros em que não tinha tempo nenhum. Dias de sol, de chuva, de constipação, de inflamação nas costelas, de sorrisos e de lágrimas, de conquistas e de medos, de falta de mimo e de tanto mimo que nem me apetecia interrompê-lo com um computador. Dias sim e dias não. Mas nunca me esqueci. E só faltei uma vez à chamada  piquei o ponto mas fui embora a seguir, porque nesse dia não havia escrita possível.

Referi-me a este blogue há uns dias como "uma empreitada". E foi isso mesmo. Uma empreitada. Das boas. Este foi o meu projecto.

E acho que vou ter saudades dele.

Começo amanhã.

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