segunda-feira, 10 de março de 2014

Dia sessenta e três.

A árdua tarefa de ensinar.


Hoje ninguém ensina. Ninguém tem tempo. Ninguém pode, ninguém quer, ninguém está para se dar ao trabalho ou para "perder" umas horas nessa tarefa. Formar é um problema, explicar desgasta. Bom, bom é contratar pessoas que nasceram ensinadas  ainda que essas pessoas, mesmo sabendo a parte mais importante, falhem no resto. E às vezes o resto também é essencial. Mas não faz mal. O que interessa é não ter de dedicar mais de dez minutos à penosa arte de formar ignorantes.

Senhores empregadores orgulhosamente vanguardistas do século XXI: parabéns. Tanto brilhantismo tem de ser destacado. Afinal de contas, nem toda a gente está intelectualmente ao vosso nível. Mas não se veja isto como um sinal triste: é essa genialidade que faz dos senhores empregadores uma estirpe diferente.

Ainda assim, digo eu que uma vez por outra é capaz de ser boa ideia tentar. A sério. A minha opinião vale o que vale, mas às vezes um elemento da outra estirpe poderá surpreender-vos. E julgo que não constituirá ameaça, podendo mesmo ser benéfico para a vossa empresa. Tentem. Vá lá. Garanto-vos que de vez em quando aparece uma alminha relativamente inteligente. Uma que só precisa de uma oportunidade. Nem todos os potenciais "colaboradores" são burrinhos, sabiam? Nem todos demoram assim tanto tempo a aprender. É claro que ao início todos funcionam numa base de tentativa e erro, mas nem todos insistem nos mesmos erros vezes sem conta. No fundo, nem todos dão assim tanto trabalho. 

E ainda deixo aqui uma dica amorosa, só por ser para vocês: às vezes quando ensinamos também aprendemos. É. Chega a acontecer. Até mesmo à vossa estirpe iluminada. Bem sei que o que não falta por aí são catraios totós, mas uma vez por ano lá aparece um mais desempoeirado.

(Ninguém sabia tudo quando começou. Nem metade daquilo que havia para saber. Nem um décimo. Mas, directa ou indirectamente, alguém lá esteve para ensinar. Foi assim que começámos. Todos. E era simpático que, hoje em dia, continuasse a haver muita gente disposta a ensinar. Porque há muita gente disposta a aprender.)

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