sexta-feira, 7 de março de 2014

Dia sessenta.

Aborrecer pessoas.


Toda a minha solidariedade para com aqueles senhores que estão à porta do supermercado a tentar impingir aos clientes o melhor cartão de crédito do século. Toda. Sou incapaz de os ignorar, de os tratar mal ou de fazer pouco deles. Por princípio não faço estas coisas a ninguém, mas, ainda que andasse por aí a destratar meio mundo, eles estariam sempre a salvo das minhas fúrias.

Porquê? Porque aqueles senhores têm o pior trabalho do mundo: aborrecer pessoas. Eles, os que nos telefonam para vender televisão, telefone, internet, um trem de cozinha, dois bilhetes para a revista e um pacote de amendoins por dez réis de mel coado, os que nos batem à porta porque o gás fica mais baratinho se mudarmos o contrato nos próximos trinta e sete minutos e onze segundos... Pobres pessoas.

Nunca trabalhei como... o que quer que aquilo se chame. "Comercial", "assistente de vendas", algo do género. Mas, se tivesse de ganhar a vida a fazer perguntas tolas à porta dos supermercados para em seguida tentar impingir uns cartões, chorava todos os dias. E, não, não estou a brincar. Chorava mesmo. Mais do que pela triste figura que faria, mais do que pelas cento e cinquenta respostas desagradáveis, choraria por ter de passar um dia de trabalho a fazer aquilo que mais detesto fazer: incomodar gente.

Todo o meu respeito para aqueles senhores, portanto. Têm o pior trabalho que alguém pode arranjar (vá, "o pior" talvez seja exagero, mas não anda longe). Além disso, nada me garante que um dia destes não serei eu a estar no lugar onde eles estão agora.

(Melhor: nada o garante a nenhum de nós. E imagino que aquele não seja propriamente o trabalho de sonho daquelas pessoas. Por isso, por estes dois motivos, haja consideração. O emprego que arranjaram já é terrível o suficiente.)

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