domingo, 23 de março de 2014

Dia setenta e seis.

Sobre os dias menos claros.


Nas alturas complicadas nós não somos bem nós. No geral ficamos iguais, mas há pormenores que mudam – e isso é mais do que suficiente para parecermos uma espécie de pessoa diferente. Ora, problemas de emprego equivalem a dias difíceis. E é certo e sabido que esses problemas arrastam outros (por culpa do nosso mau feitio ou apenas da nossa falta de paciência, fruto de tudo o que nos preocupa). Tornamo-nos irritáveis ou aborrecidos, ficamos angustiados e vulneráveis. As sensações vivem todas à flor da pele. A lágrima é mais fácil. A resposta impensada também. Cedemos aos impulsos. Fazemos o que podemos para evitar danos colaterais, esperando conseguir que os dias passem sem grandes estragos. Mas nem sempre conseguimos. Tudo incomoda, atinge, destrói. E, ao contrário, tudo marca, comove, cura. É tão fácil tocar-nos no cantinho mais sensível e ferir-nos. Ou sarar-nos.

1 comentário: