segunda-feira, 24 de março de 2014

Dia setenta e sete.

No centro de emprego.


No centro de emprego havia trinta pessoas na fila à hora de abrir. E havia três pessoas a atender (as mesas são pelo menos treze). Mas um dos teclados não funcionava  por isso, só duas é que atendiam. Três, só vinte minutos depois.

No centro de emprego havia gente baralhada, gente feliz, gente com sono, gente com fome. Havia um trio de senhores de meia idade que falava muito alto. Havia uma senhora com barba. E havia um grupo que estava à espera para entrar numa formação, sub-dividido da forma mais comum: homens para um lado, mulheres para o outro. Eles tinham um ar simples e falavam do Benfica e do Barcelona; elas eram sofisticadas e falavam do formador.

Típico.

No meio de tanta gente (dos trinta que esperavam para ser atendidos), havia um senhor, com idade para ser meu avô, muito preocupado porque teve uma consulta, faltou "a qualquer coisa  nem sei a que foi", e temia ficar sem subsídio por causa disso. (Repito a parte mais importante: um senhor com idade para ser meu avô. Preocupado. Aflito. De lágrima no olho e de ar tão humilde quanto angustiado.)

Eu tinha a senha A11. Em quarenta minutos, tratei daquilo que tinha a tratar. Saí logo depois, ainda não eram dez da manhã.

Mas o tal senhor não saiu. E, tantas horas mais tarde, de todas estas imagens a única que não me larga é a dele. A do senhor com idade para ser meu avô. Vim embora e ele ainda ficou lá. Choroso. Assustado. Porque faltou "a qualquer coisa  nem sei a que foi". 

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