sábado, 1 de fevereiro de 2014

Dia vinte e seis.

Permitam-me não estar deprimida. Pode ser?


Quando digo a alguém que fiquei sem emprego, as reacções dividem-se. Muitas são sensatas  mas nem todas.

Há quem tente consolar-me, julgando-me desconsolada ou talvez inconsolável; há quem insista no discurso dramático, por mais que eu fuja dele, e que não desista até que eu assuma que estou desfeita (às tantas lá me vencem pelo cansaço e eu acabo por acenar levemente com a cabeça e por articular um "pois" quase silencioso, só para não prolongar aquele episódio de pressão psicológica); e há quem aparentemente tenha decorado vários livros de auto-ajuda e me encha de palavrosos conselhos sobre como enfrentar o problema e superar a angústia, mas tudo isto com um ar tão apreensivo que só me apetece virar o jogo e ser eu a consolar o meu conselheiro. (Ainda há, claro, os que partem do princípio de que eu fiz de propósito e de que não gosto de trabalhar, mas desses já falei. Por alto, mas falei.)

Ficar desempregado é triste. Preocupante. Aflitivo, por vezes. Dramático, a partir de um certo ponto. E, quando para trás ficou algo de que gostávamos muito, tudo pode tornar-se ainda mais duro. Mas eu estou bem. Eu. Estou. Bem. Sim? Estou mesmo. Por sorte (e por engenho, talvez) tenho poucos dias maus (e só há uma pessoa perante quem os admito sem pestanejar). Não passo o tempo lavada em lágrimas, não me sinto desesperada nem perdi o norte. Há dias "menos bons", claro, mas que têm sempre sido salvos por mimos aconchegantes, palavras encorajadoras e bons sinais. Já as abordagens negativas e as conversas angustiadas não salvam nada nem ninguém  não fazem grande sentido quando estamos bem, e, quando estamos mal, o mais provável é que tenham o efeito contrário àquele que se pretendia.

Não me imponham a infelicidade, está bem? Não partam do princípio de que me sinto miserável. Fico-vos eternamente agradecida.

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