sexta-feira, 28 de março de 2014

Dia oitenta e um.

Sobre aquilo que somos, afinal.


A pergunta é habitual. Surge de várias formas. A aflitiva é uma das mais comuns: "o que é que tu és?".

Afinal, o que é que nós somos? Somos engenheiros porque nos licenciámos em engenharia? Somos jornalistas porque tirámos um curso de jornalismo? Não sei. Se estudámos enfermagem e nunca trabalhámos como enfermeiros, o que é que somos? A teoria indica uma resposta mas a prática sugere outra.

Quando já deixámos vários trabalhos para trás, todos diferentes, qual deles é que somos? Aquele de que gostámos mais? Aquele que fizemos mais tempo? Aquele em que mais aprendemos? Aquele que era na nossa área? E se não houve nenhum na nossa área? E se houve dois ou três? E se não gostámos de nenhum? E se nos vemos como sendo várias daquelas profissões?

E se não nos vemos em nenhuma delas? Se, no fundo, achamos que somos algo... que ainda não fomos?

E quando já fomos algo que entretanto deixámos de ser? É essa a nossa profissão? Podemos querer voltar a tê-la ou não. O que é que se diz? Varia consoante quem nos faz a pergunta? Se calhar, para a família dizemos ser e para o potencial empregador apostamos no b. Ou no c. Depende. E o ponto de vista também varia segundo quem nos conhece, porque uns cruzaram-se connosco quando éramos e outros trabalharam na secretária à nossa frente quando fomos y.

Somos a primeira profissão que nos ocorre, a última que tivemos ou aquela a que sempre aspirámos? Somos aquilo que gostamos realmente de ser ou somos aquilo que a vida nos foi impondo?

Para a pergunta "o que é que tu fazes?", a resposta é fácil. Mas, se a versão apresentada for "o que é que tu és?", a história é outra. E, se neste momento alguém me perguntar o que é que eu sou, por incrível que pareça eu não sei responder. Sei identificar uma área. E gostos. E tudo o que já fui, oficialmente ou só porque sim. Sei o que ainda gostaria de ser. Sei o que serei a partir de dia 1.

Mas aquilo que sou realmente, acima de passado, presente ou futuro, é coisa que me escapa.

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