sábado, 1 de março de 2014

Dia cinquenta e quatro.

Dinamismo e proactividade.


Há uns dias falei aqui de chavões utilizados nas ofertas de emprego. O maior será, talvez, aquele que dá título a este texto.  Hoje em dia, oferta que é oferta pede "dinamismo e proactividade" logo na primeira linha dos requisitos, e só não o faz em néon porque há uma certa formalidade a manter. 

Tudo bem. Dinâmica será conveniente, sim. Ninguém quer contratar uma pessoa "paradinha", que chega sistematicamente ao emprego com cara de quem está a trabalhar há noventa e sete horas a fio e cujo único esforço é fazer o mínimo possível ao longo da jornada. E, quanto à proactividade, já se sabe que nestes tempos é essencial  mas também levada ao limite: uma coisa é um funcionário (agora diz-se "colaborador", eu sei) proactivo, que dá sugestões, é autónomo e assume certas responsabilidades por ser competente; outra é um funcionário que até se esquece de que tem alguém a chefiá-lo e que, não lhe sendo atribuídas tarefas, tem mesmo de apelar ao lado proactivo se de facto quer trabalhar.

"Dinamismo e proactividade" soa a requisito de quem não sabe muito bem o que pedir. É chavão e basta. É preencher uma linha sem escrever coisa nenhuma.

Quando respondo a ofertas deste género, confesso que não me sinto a alma mais brilhante do mundo ao destacar que sou "dinâmica e proactiva" (até porque, habitualmente, depois vêm os outros chavões). Isto só faria sentido se não houvesse mais nada para dizer, e, no meu caso ou em qualquer outro, há sempre. Mas, às vezes, pouco resta para além de seguir o caminho proposto.

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