terça-feira, 18 de março de 2014

Dia setenta e um.

Pessoas que insistem na ideia de que nós somos "isto" e de que fazemos "aquilo".


Parece do domínio quase comum que se uma pessoa tirou curso x só sabe fazer aquilo. Pior: só quer fazer aquilo. Se o não faz, é impensável que tenha mudado de ideias ou que tenha visto a formação apenas como um ponto de partida para outras coisas. Não. Quem tirou um curso e não trabalha nessa área não pode estar nessas condições de livre vontade. Certamente tem uma vida de permanente frustração. E, por mais que o suposto desgraçadinho tente explicar que não quer especificamente aquele trabalho, e que até é bem mais feliz a fazer outras coisas, poucos são os que dão ouvidos. Mas o caso não fica por aí: quando se parte do princípio de que aquela pessoa só não trabalha na "sua" área porque lhe faltam talento ou oportunidades, sempre que surge uma hipótese a marcação cerrada está garantida. Nas cabeças menos flexíveis, recorde-se, somos só  só  aquilo. Por isso, se parecemos pouco interessados naquela vaga que é tão-mas-tão-dentro-da-área, aí vêm o ar e o discurso desconfiados. "Então mas tu não és jornalista/designer/fisioterapeuta/contabilista/arquitecto?"

Sim. Na base, sim. Mas, felizmente, somos mais para além da base. (Nestes tempos, grave é se não o formos. Por mais estranho que pareça.) E o que queremos fazer dela é cá connosco. Por isso, pode acontecer que, havendo escolha, optemos pela outra vaga (sim, a que não tem nada a ver com a nossa formação). E que fujamos subtilmente, na medida das possibilidades, àquela que tem tudo a ver com o curso que tirámos. Por motivos que, mais uma vez, só nos dizem respeito a nós (e que partilharemos com quem quisermos, apenas).

Mas mal de nós se mesmo explicando isto com muito cuidadinho não nos fizermos entender.

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